ESCOLA E.B. 2,3 PROF. ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO

04
Abr 11

Gostam de LER, amiguinhos?

Como é bom podermos viajar, descobrir mundos novos, viver aventuras, aprender sobre todos os assuntos... Tudo, tudo isto sem sair do lugar! Gostava que todos descobrissem o prazer da leitura, a alegria, a companhia de um livro. Pena que alguns sejam como o menino desta história. Leiam.

 

(...)

"Pela consistência e pelo peso, apercebera-se imediatamente de que não
era de esperar nada de bom do embrulho que a mãe fizera escorregar para as
mãos.

Desembrulhara-o lentamente, com circunspecção, como se lá dentro
estivesse uma bomba prestes a explodir. Quando, em vez de sapatilhas, lhe
apareceram dois livros de capa luzidia, não aguentou mais e desatou a chorar, tal
a raiva que sentia.

No rosto dos pais estampara-se uma grande desilusão.

– Meu anjo – dizia a mãe –, não é preciso chorares agora, choras depois
de os teres lido.
– Olha! Já viste que lindas ilustrações coloridas? – dizia o pai, prazenteiro.
Leopoldo tinha-os atirado ao chão com raiva e, batendo com a porta, tinha-
se ido refugiar no quarto.
Desde que nascera que, pelo seu aniversário, não tinha recebido senão
livros. Primeiro, livros fofos de pano, depois, livros com grandes desenhos e
poucas palavras, depois, ainda livros, mas com muitas palavras e poucos
desenhos. Da sua cama, ao erguer o olhar, não conseguia ver senão estantes e
estantes cheias de livros e, de todos esses livros, não havia sequer um que ele
tivesse desejado.

Pouco depois, naquela mesma tarde, quando a mãe com voz persuasiva,
por detrás da porta, o fora convidar para apagar as velas do bolo, ele gritara:

– Apaguem-nas vocês! – e depois, para não ouvir mais nada, enfiara a
cabeça debaixo do travesseiro.
Estava triste e furioso. Parecia-lhe impossível que os seus pais, após oito
anos de convivência, não conseguissem perceber que os livros não lhe
interessavam para nada! Que os pais gostassem, tudo bem, mas não era por isso
que ele haveria de gostar. Bastava-lhe olhar para aquela superfície branca cheia
de gatafunhos pretos, para que a cabeça lhe começasse a andar à roda como se
fosse um carrossel.

No ano anterior, a mãe, preocupada com os seus péssimos resultados
escolares, tinha-o inclusivamente levado a um psicólogo. O psicólogo tinha-lhe
feito imensas perguntas, tinha-o feito brincar com uns cubinhos de plástico de
depois, no fim, tinha dito:

– Papirofobia, mais um caso de papirofobia.
– Papirofobia?! – tinha repetido a mãe, alarmada, e aí o psicólogo tinha-lhe
explicado que se tratava de um problema recentíssimo e em rápida expansão: os
primeiros casos tinham sido registados nos Estados Unidos dez anos antes e, de
lá, como uma epidemia invisível, tinha invadido todo o mundo civilizado.
– A culpa, minha senhora – dissera ele, enquanto os acompanhava até à
porta – é, da televisão, dos jogos de vídeo. Tire-lhos, obrigue-o a ler, a usar a
cabeça e em poucos meses há-de notar incríveis melhoras. "


TAMARO, Susanna, O Rapaz Que Não Gostava de Ler, Ed.Presença.

 

 

publicado por CREM Pereira Coutinho às 12:01

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