«Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.»
Na próxima sexta-feira vamos mais uma vez festejar o Dia 25 de Abril de 1974.
Os cravos vermelhos são o seu símbolo. Simbolizam a Liberdade, a Democracia, e o Sonho de um País mais Fraterno.
« Não podemos ignorar »...*** por essa razão, aqui fica um pouco de História.
O 25 DE ABRIL E A CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA PORTUGUESA
A Primavera Marcelista
Salazar foi afastado do poder em 1968, tendo sido substituído pelo Professor Marcelo Caetano. Nos primeiros tempos do seu governo, houve algumas tentativas de aplicar reformas que poderiam vir a mudar o regime.
No entanto, este período inicial, que ficou conhecido como «Primavera Marcelista», não durou muito tempo, regressando a repressão e a falta da liberdade. O descontentamento entre a população era cada vez maior. E porquê?
- A guerra colonial continuava sem solução à vista, o que era um verdadeiro escândalo, a nível nacional e internacional. - Não havia liberdade. As forças da oposição não puderam fiscalizar* o acto eleitoral de 1969 (eleição dos deputados à Assembleia Nacional); o voto continuou a não ser alargado a toda a população. Apesar disso, foram eleitos alguns independentes, nas listas da União Nacional, que defendiam as liberdades fundamentais e o fim da violência da polícia política - constituíam a chamada «ala liberal».
A Revolução de Abril
Preparando a Revolução
Entre os militares, crescia o descontentamento em relação ao regime de Marcelo Caetano. A guerra colonial prolongava-se e, nas Forças Armadas, começava a tomar forma um movimento que pretendia apresentar soluções para acabar com a guerra. Um grupo de oficiais formou, em 1973, o Movimento das Forças Armadas (M.F. A.), que, no maior segredo, começou a preparar um golpe de estado. Estes oficiais eram bastante jovens e, por isso, o M.F.A. começou por ser conhecido como «Movimento dos Capitães».
O Dia da Liberdade
No dia 24 de Abril de 1974, cerca das 23h, os Emissores Associados de Lisboa transmitiram a canção «E Depois do Adeus», cantada por Paulo de Carvalho; foi o sinal combinado para o início da operação militar. Mais tarde, já na madrugada do dia 25 de Abril, a Rádio Renascença transmitia «Grândola, Vila Morena», de José Afonso; estava confirmado o desencadear* da revolução que iria pôr fim a 48 anos de ditadura ( no final deste texto, são apresentadas as letras destas canções-senhas do 25 de Abril).
O capitão Fernando Salgueiro Maia, partindo de Santarém à frente de uma coluna de tanques, entrou em Lisboa e tomou a Praça do Comércio; no Largo do Carmo, conseguiu a rendição* de Marcelo Caetano, refugiado no quartel da G.N.R.
E o povo saiu à rua
Uma das preocupações do M.F.A., no dia 25 de Abril de 1974, era manter a população informada do que estava a acontecer. Por isso, foi importante ocupar as estações de rádio e, também, os estúdios da R.T.P, a única estação televisiva, nessa época. Durante todo o dia, a televisão e as rádios transmitiram comunicados do M.F.A. e marchas militares. Também os jornais deram notícia do que estava a acontecer.
Alguns dias depois, no dia 1 de Maio de
Em Portugal, durante o Estado Novo, foram proibidos os desfiles de trabalhadores no 1.º de Maio. Desde 1974, é feriado nacional.
As mudanças da Revolução Derrubado o regime do Estado Novo, tornava-se necessário e urgente assegurar a ordem e o governo do país. Formou-se, na noite de 25 para 26 de Abril de 1974, uma Junta de Salvação Nacional, presidida pelo então general António de Spínola; este deu a conhecer o programa do M.F. A. e os objectivos da revolução. A 15 de Maio foi nomeado o 1.º Governo Provisório.
A Junta de Salvação Nacional era composta por sete elementos. Nesta fotografia podemos ver, da esquerda para a direita: os almirantes Rosa Coutinho e Pinheiro de Azevedo, e os generais Costa Gomes, António de Spínola, Jaime Silvério Marques e Galvão de Melo. O general Diogo Neto, também membro da Junta, encontrava-se, na altura, em Moçambique.
O programa do M.F.A. tinha três objectivos fundamentais: Descolonizar, Democratizar e Desenvolver. O fim da guerra colonial tinha estado na origem do Movimento e era, por esse motivo, uma das questões mais importantes. Para além disso, era fundamental restabelecer a liberdade e assegurar as bases de um novo regime que ajudasse ao desenvolvimento da sociedade portuguesa.
A descolonização
Países que nascem
Logo após a Revolução do dia 25 de Abril, a questão colonial voltou a estar na ordem do dia. De um modo geral, a população exigia o fim da guerra e o «regresso dos soldados».
Também o governo português considerava necessária a descolonização; Portugal reconhecia o direito à independência das colónias.
Desta forma, ainda no ano de 1974, começou o processo de descolonização. Este processo obrigou à realização de negociações e resultou no nascimento de cinco novos países africanos.
A República da Guiné-Bissau foi o primeiro país a tornar-se independente, no dia 10 de Agosto de 1974. Seguiram-se: - República Popular de Moçambique - 25 de Junho de 1975; - República de Cabo Verde - 5 de Julho de 1975; - República Democrática de S. Tomé e Príncipe - 12 de Julho de 1975. - República Popular de Angola - 11 de Novembro de 1975.
Apesar de independentes, estes novos países continuaram a manter relações de amizade com Portugal, conservando o português como língua oficial; por isso são conhecidos como P.A.L.O.P. (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).
O regresso
Com a independência das antigas colónias, muitos portugueses que lá residiam e trabalhavam, temendo pelas suas vidas e bens, regressaram a Portugal Continental e Insular (Madeira e Açores). Chamaram-lhes «retornados» embora, na sua maioria, se tratasse de cidadãos já nascidos em África, filhos ou netos de colonos. Em alguns casos, tratava-se mesmo de famílias africanas que mantiveram a nacionalidade portuguesa e escolheram viver em Portugal.
A vinda de tantas pessoas (entre 500 000 e 700 000) criou problemas graves:
- para a sociedade portuguesa, que tinha dificuldades em integrar um número tão grande de indivíduos; - para os «retornados», que tiveram, em alguns casos, muitas dificuldades para conseguir casa ou emprego. Com o tempo, as dificuldades foram sendo ultrapassadas; algumas pessoas integraram-se na sociedade portuguesa, outras emigraram para outros países, sobretudo para o Brasil.
Duas excepções
Quando aconteceu o 25 de Abril de 1974, Portugal mantinha, sob a sua administração, dois territórios no Extremo Oriente: Macau e Timor Leste.
Macau continuou sob administração portuguesa até ao dia 19 de Dezembro de 1999, data em que passou a estar integrado na República Popular da China.
Quanto a Timor Leste, foi invadido por tropas indonésias no dia 7 de Dezembro de 1975. Mais tarde, o território foi considerado, pela Indonésia, a sua 27.a província. O povo timorense lutou, durante 24 anos, pela liberdade e pelo direito de decidir do seu destino. Este foi alcançado através do referendo, realizado no dia 31 de Agosto de 1999; nascia um novo país - Timor Leste.
Emília Maçarico, Helena de Chaby e Manuela Santos
Texto editora
1ª Senha do 25 de Abril de 1974
" E depois do adeus"
http://br.youtube.com/watch?v=89LBNSX_vig
( abrir em nova janela e minimizar para ouvir a música e continuar na mesma pégina)
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto,
Eu
Eu
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste
Eu
Tu te deste
Eu
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência
Tua
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste
Te
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.
Paulo de Carvalho,
com letra de José Niza e
música de José Calvário
"Grândola, vila morena"
http://br.youtube.com/watch?v=PBK7bd3UYow
( abrir em nova janela e minimizar para ouvir a música e continuar na mesma pégina)
“Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade”
Letra e Música de José Afonso
Cantata de paz ***
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Venham visitar a nossa pequena exposição sobre o 25 de Abril de 1974, que estará patente no CREM até 2 de Maio e tragam os vossos trabalhos.
Maria F.